quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Às vezes eu falo com a vida

A chuva, o vento, o escuro e o caminho.
Tudo em harmonia,prontos a destruir a minha franja com chapinha, quebrar o meu guarda-chuva e me deixar em sopa. E não só pra isso.
Um começo de noite, onde necessito caminhar para chegar no abrigo de minha casa.
Uma mãe que está indisponível pra me salvar do aguaceiro, e uma carona recusada.
Tudo começa com o vento, que vem a baixo e me empurra, quase me fazendo parar e me deixando descabelada. As folhas, que sobem, descem e se mexem como se dançassem prontas a virarem índios e pedir que venha a água.
O vento brinca com as minhas pernas, passa pelo meu ombro e toca a pele do meu braço. Sinto frio, mas o tempo esta quente. E então, quase sutilmente me encontro de novo. Vejo o presente como se flutuasse e encontrasse a resposta do estar vivo. E em tudo o que consigo pensar é em nada. Uma lágrima chega aos meus olhos, uma frase a minha boca, e nesse misto de entusiasmo enxergo que as coisas estão certas, vou viver o que eu quis e serei feliz buscando os meus sonhos.
A chuva cai. Entra na minha sandália, molha os meus dedos, as minhas costas, o vento brinca loucamente com meu guarda-chuva. Luz e som descem dos céus enquanto atravesso uma praça repleta de árvores e penso, as pessoas que morrem eletrocutadas por um raio morrem onde? Olho para o topo da árvore central, seus galhos balançam, suas folhas criam vida e me esqueço de mortes, desastres e do medo. Um homem em um carro para e fala alguma coisa, eu não escuto e sigo adiante, sem medo, sem preocupações. Estou segura, a vida está do meu lado, e quando ela não mais estiver, eu estarei do lado dela.
Subo a rua de casa, alguém dentro de um bar joga um cigarro consumido no meio da avenida. Então, me dói o coração, vejo um latão de lixo ao lado de suas pernas, vejo o lixo na rua vagar inerte até o bueiro mais próximo, esse pequeno ato me lembra do lado negro de ser um humano. Atravesso a rua, e piso em uma poça, o frio da agua acumulada me lembra o que eu sentia antes, e compreendo, que por enquanto é necessário o ruim, para que o bom exista.

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