segunda-feira, 20 de junho de 2011

Bicho homem

O bicho homem é um bicho estranho,
se diz livre, desapegado e rei da selva.
Se vê rico.
Não acha felicidade em mercado, e amor comprado é frio-triste.
Ele fez casa, armário, grades e tvs. Comida rápida, Internet rápida e rapidinhas na escada. Afinal de contas, o bicho homem sabe dizer "tempo é dinheiro".
Asfaltou o chão de terra, colocou quatro rodas sob um amontoado de ferro para chegar, rápido, no destino.
Mas esqueceu-se do caminho e de abaixar o vidro pro neguinho.
Casou-se com modelos anoréxicas desejando a suburbana.
Pois ela sim sabe e não tem vergonha de que é um bicho.
Que copula, vive em bando e vira caça.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Prazer, Ana

Insegura, falida. Despida em choros.
Quando ela chega, fico apática. Anemica.
Minhas calças caem. Não, não é você, Lola.
Elas caem é de magreza.
Ela tem paranóias. Se sente na fabula do ratinho e da jibóia.
Caçada. Amaldiçoada.
Seus desejos? Casamento. Família e um bom orçamento.

à deriva

deslocada, fora do ar. Excluída do meio. Sendo empurrada discretamente para a sarjeta. Centrimetro apos centrimetro. A minha dança da aceitação é desajeitada e vejo olhares desaprovadores, suplicantes pelos meus erros. - Retire-se - dizem eles, - Nao te queremos, não precisamos de ti. - Vou a chão. Agarro-me a barra da calça do meu fuzilador, lágrimas pretas escorrem, - espere, posso mudar, vou me adequar ; serei o que todos esperam de mim. - Ele dá de ombros. Seus olhos só para o dever dele. Nos meus manifestos passados de alternatividade cuspi-lhe no rosto provando o quão diferente eu era. Agora ele se vinga. Me joga e desaprova. Por rancor de amor desgraçado.